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Little boy

Little boy

Little boy (2015) – Além do impossível
roteiro:
direção:
2 out of 5 stars

(resenha publicada originalmente no Vórtex Cultural, em 10/03/2016)


Era uma vez um garotinho chamado Pepper (Jakob Salvati), que morava com sua família – pai, mãe, irmão mais velho – na costa oeste dos EUA, na época da Segunda Guerra Mundial. Pepper sofria bullying na escola, por ser menor que as demais crianças de sua idade e seu apelido era obviamente Little Boy. Seu único amigo era seu pai, James (Michael Rapaport), com quem vivia grandes aventuras. London (David Henrie), o irmão mais velho, não conseguiu se alistar e, por causa disso, é James que vai para a guerra no Pacífico. A partir daí, Pepper se esforça para fazer o possível – e o impossível – para que seu pai retorne logo.

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É nesse tom fantasioso, misturando realidade e a visão infantil de Pepper, que o diretor/roteirista, Alejandro Monteverde, conta sua história. As soluções narrativas utilizadas por ele – tanto a narração em off, pelo protagonista já mais velho, quanto um momento histórico relevante visto pelos olhos de uma criança – remetem a várias outras obras e, infelizmente, não consegue aplicar essas técnicas tão bem quanto as demais – Big Fish, A vida é bela, Esperança e glória, apenas para citar os os primeiros que me vieram à mente.

Tomando como ponto de partida o dito que “A fé move montanhas” – versão bíblica “original” (?) da frase de auto-ajuda cunhada por Paulo Coelho em O alquimista – o diretor tenta construir uma parábola que aborda superficialmente a questão da fé em si e da fé como instrumento de manipulação, da tolerência e do preconceito, do bullying. Não só o mote que norteia a história e que é repetido à exaustão, como também o uso de outras histórias bíblicas como exemplo (ou muleta) para alguns eventos, dão ao filme um viés religioso que talvez incomode alguns espectadores. O roteiro até flerta em alguns momentos com uma certa crítica à mitologia cristão, mas é tão en passant que mal pode ser considerada.

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Um problema recorrente são os trechos que acontecem fora do universo de Pepper – as cenas da guerra e do combate dos samurais. Elas parecem tão caricatas quanto as cenas dos filmes de Ben Eagle (Ben Chaplin), o personagem das histórias em quadrinhos que o pai de Pepper costumava ler com ele. São pouco realistas, limpas demais, teatrais demais e, por conta disso, tiram o espectador da imersão na história que, por si só, já não é muito envolvente. A fotografia é boa, mas não se pode dizer o mesmo da montagem, que insiste em intercalar “os dois mundos” sempre que Pepper enfrenta uma situação difícil. Fica nítido o esforço do roteiro para direcionar e manipular os sentimentos do espectador. E a trilha sonora contribui com essa percepção, tendo vários elementos banais, lugares-comuns postos ali “apenasmente” para emocionar o público.

O elenco está bem, com destaque para a mãe de Pepper, Emma (Emily Watson) e para o próprio Pepper, que consegue conquistar a simpatia do espectador, sem exagerar na atuação.

O roteiro dá muitas soluções simplistas e, por isso, previsíveis. Pode-se notar isso principalmente no desfecho da história. Teria sido corajoso demais se o roteirista tivesse optado por um happy-end menos clichê. Enfim, é um filme feito para comover a plateia.

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