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Deadfall

Deadfall

Deadfall (2012) – A fuga
roteiro: Zach Dean
direção: Stefan Ruzowitzky

(Resenha originalmente publicada no Vórtex Cultural, em 04/03/2013)

Sinopse:
Após o assalto a um cassino, trio de ladrões dirige-se à fronteira EUA-Canadá, quando um acidente na estrada acaba causando a morte de um deles. Escapando ilesos, os irmãos Addison (Eric Bana) e Liza (Olivia Wilde) separam-se com o intuito de dificultar a perseguição policial, tomando rumos diferentes no meio da neve para chegar à fronteira.
Enquanto isso, Jay (Charlie Hunnam), um ex-boxeador recém saído da prisão, viaja para passar o Dia de Ação de Graças na casa dos pais – o xerife aposentado Chet Mills (Kris Kristofferson) e sua esposa June (Sissy Spacek).

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A sequência inicial é suficientemente impactante para chamar a atenção do espectador e fazê-lo querer saber o desfecho da estória dos dois irmãos. A tranquilidade quase excessiva dentro do carro – de certo modo um reflexo da quietude da paisagem branca ao redor – é subitamente interrompida pelo acidente. É uma pena que a força dessa cena não se mantenha no restante do filme que avança numa sucessão de eventos bastante previsíveis, com coincidências que por vezes soam forçadas.

É um thriller de perseguição. Ponto. Dito isto, pode-se afirmar que o filme é satisfatório enquanto thriller de perseguição. Não se deve esperar algo similar a Argo, em que a perseguição é pano de fundo para o estudo dos personagens – todos muito bons. Neste, ao contrário, a tentativa de mesclar ação e dramas pessoais apenas enfraquece a trama. O roteiro aliás, se mostra bem indeciso, sem saber se explora os dramas pessoais, o isolamento causado pela nevasca, as pequenas tramas paralelas ou se se atém à fuga dos ladrões. Ao tentar focar nos conflitos interpessoais de alguns personagens – Jay e seu pai, Liza e Addison, Hanna e seu pai – ou ao tentar acrescentar um pouco de complexidade psicológica aos personagens – Addison na cabana, por exemplo – a trama perde ritmo e interesse.

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Percebe-se a boa intenção do roteirista, mas isso não é o bastante. A sucessão de clichês e estereótipos, principalmente na construção dos núcleos de personagens, poderia ter sido evitada. Citando apenas os mais óbvios: clichê machista – uma policial feminina, a única da delegacia, que é sempre preterida por ser mulher ; clichê racial – um caçador com feições indígenas vestindo um casaco de peles com uma águia pintada nas costas.

Mesmo a presença de bons atores – Spacek, Kristofferson e Kate Mara (que demonstra todo seu potencial na série House of Cards) – não ajuda na construção dos personagens, já que estes são unidimensionais. A performance do elenco é correta, mas nada além disso. Eric Bana quase convence como o ladrão meio anjo meio demônio. Olivia Wilde não tem como ir além do perfil apático de Liza. Hunnam talvez pudesse fazer algo se seu personagem fosse mais que apenas o link entre os ladrões e seu destino.

Apesar do excesso de closes e de “establishment shots”, a fotografia não deixa a desejar. Principalmente nas externas em que é beneficiada pela paisagem. Ajudaria bastante se a montagem fosse um pouco mais ágil. Afinal, é uma perseguição a fugitivos, não um filme contemplativo. A sequência de perseguição com snowmobiles, mesmo com a obviedade de alguns cortes, é um bom exemplo do ritmo que deveria ser seguido no restante do filme.

A sequência inicial e o final (quase) inesperado – depois que os personagens lavam a roupa suja durante o jantar de Ação de Graças – compensam o “miolo” meio morno da narrativa. Em suma, é um filme mediano. Longe de ser um blockbuster, mesmo com o roteiro convencional e pouco criativo, personagens estereotipados e pouco complexos, consegue cumprir a função de entreter e passar o tempo.

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