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21 grams

21 grams

21 grams (2003) – 21 gramas
roteiro: Guillermo Arriaga
direção: Alejandro González Iñárritu
4 out of 5 stars

21 grams é um daqueles filmes que não me canso de rever. A estrutura do filme é um ótimo exemplo de um estilo de narrativa usado (e abusado) ostensivamente nos últimos anos: estórias e personagens aparentemente desconectados e que em algum momento se entrecruzam.

Iñarritu utiliza-se dessa técnica com perfeição. Nos momentos iniciais, somos apresentados aos personagens: Benício Del Toro, como Jack Jordan, um ex-presidiário regenerado e devotado à religião; Sean Penn, como Paul Rivers, um professor de matemática com uma doença cardíaca em fase terminal; e Naomi Watts, como Cristine Peck, uma ex-viciada que se reabilitou após constituir sua família.

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Assim como em Amores Perros, um acidente automobilístico é o evento que une suas trajetórias. O enredo é simples, mas além da montagem do filme intercalar as três estórias, as cenas saltam para “momentos” diferentes da vida de cada personagem. Iñarritu passeia livremente entre presente, passado e futuro. Durante a primeira meia hora, isso obriga o espectador a redobrar a atenção, tentando localizar-se temporalmente. A montagem do quebra-cabeça vai se tornando cada vez mais fácil à medida que mais peças são apresentadas e encaixadas no time correto. E apesar de todo esse recorte, eu ainda não peguei nenhum furo no roteiro, nenhum fio solto.

Desde a primeira vez que assisti, 21 grams me remeteu a dois outros filme com estrutura narrativa semelhante, devido aos saltos temporais: Memento e Irréversible. Em 21 grams, o “trabalho” de juntar as peças fica todo a cargo de quem assiste (em Memento, havia uma ajudinha, com a repetição de uma sequência de cada trecho), como se participasse do trabalho de montagem do filme, intensificando seu envolvimento com a trama. E, a exemplo de Irréversible, ficamos sabendo antecipadamente o que irá se abater sobre os personagens, ao vislumbrar cenas entrecortadas do futuro de cada um. E, além desses, me remete a Pulp Fiction, pois cada cena deve ser bem observada, pois possui relevância que provavelmente só será entendida no final do filme, quando todas as peças estiverem na mesa.

O elenco é uma atração à parte. A atuação do trio que se encarrega dos personagens principais está simplesmente excepcional. Inegável a força da interpretação de todos eles. Watts, que eu já achava bastante talentosa desde Mulholland Drive, faz a transição da sua personagem de modo surpreendente. Sou fã incondicional de Del Toro, e ele não decepciona, consegue evitar que seu personagem desperte a antipatia do público. E Penn está tão bem quanto em Mystic River.

Não é um filme fácil de assistir. Tanto pela estória quanto pela estrutura narrativa. E talvez por causa disso, não seja unanimidade entre os que o assistem.

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