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Através das oliveiras

Através das oliveiras

meteorologia: chuva… e que chuva…
pecado da gula: pão na chapa com manteiga
teor alcoolico: 2 stella artois, 1 dose de the famous grouse
audio: nerdcast #233

Através das Oliveiras (Zire darakhatan zeyton), direção Abbas Kiarostami

Assisti a esse filme há uns 10, talvez 12 anos. Gostaria de revê-lo, mas não o encontrei na lista do NetMovies, nem em lojas virtuais. Mas graças ao tio Torrent, consegui assisti-lo novamente. Apesar de pouco ter visto do cinema iraniano, o que vi sempre foi de meu agrado. E com o filme de Kiarostami não foi diferente.

Lembrava, da primeira vez que assisti, do inusitado da estória e da simplicidade e singeleza como foi contada. É pura metalinguagem. Como se fosse um documentário, é um filme contando a estória da “feitura” de um filme, desde a escolha do elenco até a direção dos atores, escolhidos entre os habitantes da cidade selecionada como locação. Durante a filmagem, é mostrado o passo-a-passo da gravação de uma única cena, repetida à exaustão, gesto por gesto, fala por fala, tomada por tomada.

O inusitado fica por conta do casal protagonista. Se, no filme dentro do filme, eles representam um casal recém-casado logo após o terremoto que atingiu a cidade, na “vida real” não são um casal apesar de o rapaz (Hossein) tentar convencer a moça (Tahere) do seu amor, implorando para que se case com ele. Percebe-se que ele erra as falas propositalmente, a fim de ter mais tempo ao lado dela, tentando retardar a separação – inevitável ao final da filmagem. É interessante como a realidade é interrompida pela ficção tão amiúde, sem qualquer cerimônia. As tentativas de aproximação de Hossein são entrecortadas pelas gravações das cenas. É poético e, ao mesmo tempo, chega a ser engraçado, acidamente engraçado.

O fio narrativo é amarrado de forma bastante imaginativa. A ausência de movimentos de câmera mais ousados ou de qualquer efeito especial demonstra que a simplicidade é tudo, reafirmando o tom documental do filme. Para se contar uma boa estória nada mais é necessário além de “uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”. É essa despretensão que faz o filme ser tão agradável de assistir. E fica a questão, afinal é tudo ficção ou um retrato da realidade pós-terremoto daquela pequena cidade iraniana?

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